Muito recentemente, realizou-se, em Leiria, o II Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, organização do Instituto Politécnico da cidade. A iniciativa, subordinada ao tema “A Escrita e a Cidadania”, procurou criar um espaço de reflexão e discussão sobre o papel dos Escritores e da Literatura no contexto da formação para a cidadania. Para tal, estiveram presentes cerca de duas dezenas de escritores não só portugueses, mas também provenientes de países de expressão portuguesa. Devo aqui destacar 4 momentos que me tocaram de forma particular. Vejamos então:
1) A homenagem ao Poeta Manuel Alegre. Natural de Águeda, poeta e político português, desde muito cedo demonstrou as suas convicções políticas e cívicas. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi um grande opositor ao regime salazarista. Foi na escrita que encontrou forma de dar voz aos seus pensamentos e aos seus ideais. Tem sido condecorado com vários prémios literários. Deixo-vos aqui um pequeno excerto de um célebre poema da sua autoria:
“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.”
(“Trovas do vento que passa”)
2) O tom provocatório de José Jorge Letria. Embora estivesse inserido no painel “Infância e Juventude – Literatura e desenvolvimento pessoal”, este escritor da literatura infanto-juvenil procurou ir mais além e acordar as mentes adormecidas para a vulgaridade e embriaguez mediática a que está sujeita a Literatura. Defendeu que só os verdadeiros autores da literatura dão azo à criação artística e lançou uma feroz crítica aos outros (governantes, amigos de governantes, dirigentes futebolísticos, treinadores de futebol, strippers, etc.) que recorrem à escrita de um livro como meio de auto-promoção, dando eco às banalidades que nos rodeiam. Para José Jorge Letria, a criação literária é um acto de cidadania.
3) A intervenção de Rui Zink. Num discurso a que já nos habituou, o Professor / Escritor falou sobre “Jornalismo e Literatura – Caminhos Cruzados”. Através de ironias, metáforas e muitas comparações, alertou-nos para a necessidade de existir um distanciamento entre a escrita jornalística e literária, para que a obra seja verdadeira criação artística. Na verdade, alguns jornalistas que ousam escrever um livro pecam pela excessiva ligação ao estilo a que estão habituados, por questões profissionais. Mais. Rui Zink acredita que a carreira de uma pessoa pode influenciar bastante a história que se cria... basta pensarmos como escreveria António Lobo Antunes se não fosse médico psiquiatra ou se Antoine Saint-Exupéry teria escrito “O Principezinho” não sendo ele próprio piloto-aviador.
4) O exemplo de Vasco Graça Moura. Homem dos sete ofícios, deixou-nos o seu testemunho sobre a Poesia. Numa só palavra... Excelente!
Um encontro marcado pela partilha de opiniões, de vivências experimentadas e de um autêntico prazer de ler e ouvir Literatura...
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