sábado, 29 de setembro de 2007

"Os Lusíadas", Poema de Fundação Nacional

"Os Lusíadas" de Luís de Camões, poema épico, tem como núcleo central estruturante da obra a viagem inaugural de Vasco da Gama à Índia (1948). A viagem deste navegador estava já muito remota e bastante tratada discursivamente para aparecer como evento histórico marcante. Quando Camões vai à Índia, fá-lo num período de declínio do Império português no Oriente. Assim, a epopeia surge como uma forma de exaltação de um Império já conscientemente crepuscular.
Desde há muito tempo que se ansiava em Portugal por um poema de vitórias; desde a expansão portuguesa, que marcou a verdadeira abertura ao "outro", que se sentia a necessidade de celebrar a entrada numa nova fase da Humanidade. Esta vontade de escrever uma epopeia era profundamente humanista, assim como era o pensamento camoniano.
Cumprido esse desejo por parte de Camões, herdámos uma obra símbolo de um mundo axiologicamente marcado por princípios épicos/guerreiros muito próprios. O intuito do autor é (re)fundar a nação, a visão de Portugal pelos portugueses e pelos estrangeiros. Pretendia sublimar a glória de um dos primeiros países no tempo, com fronteiras territoriais bem definidas. Daí a sua preocupação em produzir uma arqueologia e uma genealogia portuguesas.
A epopeia camoniana divide-se em 4 planos: o da viagem, o da narração histórica, o mitológico e o das considerações do Poeta. É através destes planos e pelo discurso de Vasco da Gama e de alguns deuses que tomamos contacto e conhecimento com o espírito de aventura, a universalidade, a heroicidade e a religiosidade, valores inerentes à empresa dos descobrimentos/navegações, que adquirem toda a dimensão estética que vai permitir a fusão harmoniosa da imagem nacional/imperial ambicionada pela política nacional de então.
A nação portuguesa é apresentada no poema como centro de uma pátria de fronteiras em expansão. "Os Lusíadas" converteram-se na metáfora privilegiada da nação, contribuindo dessa forma para a criação da imagem que temos da nossa identidade.
A universalidade camoniana inclui toda a aventura ética, estética e religiosa que a travessia implicou em termos pessoais e nacionais. São estes aspectos narrados, que aliados à cultura recebida do Humanismo, se tornam símbolos de uma nação em expansão, Portugal. Esta epopeia é o reflexo não só da aventura vivida pelo povo, mas também a do próprio autor.
Com este poema temos acesso aos acontecimentos que foram ocorrendo ao longo dos tempos e que tornaram Portugal num país duplamente central: centro face à Europa como descobridores de novos mundos e centro face aos outros na Europa.
"Os Lusíadas" exprime a ideia de Portugal como núcleo de expressão, ideário do renascimento. Um olhar em busca do projecto imperial de D. Manuel, com aspectos medievais, como o messianismo, a missão de expandir a fé e restaurar o poder de Jerusalém.
É, de facto, a história da fundação do nosso país enquanto nação, desde os seus primórdios até à sua vontade de expansão à escala planetária, divulgando a fé e o cristianismo tão característicos dos Portugueses.

sábado, 8 de setembro de 2007

"A Estrela de Joana"

O livro de Paulo Pereira Cristóvão é uma ponte para o conhecimento de (quase) todos os corredores de uma investigação policial. Com a sua notável experiência de inspector, aliada ao seu lado humano, procura mostrar-nos o dia-a-dia, os pensamentos, os dilemas e o sofrimento dos inspectores da Polícia Judiciária. Mais do que uma nova visão de tudo o que se passou, "A Estrela de Joana" é "uma homenagem à Joana, que sofreu mais do que todos juntos. É uma pequena-grande criança." Um livro que esclarecerá e fará chorar o leitor mais sensível...
Diríamos que, tal como esta menina, também Maddie McCann é uma estrela, um anjinho, que está presente na vida de todos nós. Talvez um dia possamos ler um livro de homenagem ao seu sofrimento na parca vida que teve...